Antes mesmo de pisar em solo québequense, aprendi que bebedouro, em francês, era “fontaine de l’eau”, ou seja, fonte de água. Quer dizer, de sede não morreria.
E não demorou muito pra pagar um miquinho com esta expressão.
Primeiro dia de aula na francisação.
Com sede, fui procurar por um bebedouro e o primeiro com cara de “québécois” que vi passar, já ousei botar pra fora o meu francês de samambaia de plástico.
– Bonjú, silvouplé, jé vê ãn pê délô. Ú jê pú avuá una fontáini dô?
Provavelmente acostumado com perguntas incompreensíveis de imigrantes incompreendidos, o simpático da terrinha sorriu e respondeu:
– Ah, tu veux-tu l’abreuvoir? Il est là!
Não preciso dizer que a única coisa que entendi foi ele apontando pra uma direção:
– Putz, perguntei uma coisa e ele entendeu outra completamente diferente. Má vamu que vamu.
Logicamente, a vergonha foi maior do que a necessidade de esclarecer minha dúvida semântica. Sorri amarelo e agradeci, seguindo pra onde ele tinha indicado já pensando:
– Assim que sair do seu ângulo de visão, vou precisar perguntar pra outra pessoa…que saco!
Mas…Supresaaaaa!!! Dei de cara com um bebedouro.
Pois é. Enquanto em québequês se diz “abreuvoir”, em países como a França e a Bélgica se diz “fontaine de l’eau” ou simplesmente “fontaine d’eau”.
Pensa que parou por aqui? Vai vendo.
O tal do “abreuvoir”, fora do Québec, significa também bebedouro, mas para os animais (os irracionais, claro). Relincha, ‘pobri’ imigrante brazuca.
Vivendo, aprendendo e bebendo na fonte do québequês.
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E você, já passou por algum mico de imigrante? Conte pra gente. Prometemos manter o anonimato.