Desenho de autoria de Claudio Moura (contact@claudiomoura.com)
Mico é o animal doméstico preferido dos imigrantes.
Fui “magasiner” pelo shopping e logo a fome bateu e com ela a insegurança: PQP, como vou fazer um pedido se mal sei murmurar “oui” e “non?”
Mas sou imigrante brasileiro, não desisto “jamais” e pensei positivo comigo mesmo:
– Você é “capable”! Basta pedir pelo número, abestado!’
Partiu “A&W”, mas não sem antes parar na “salle de bain” pra verificar se a “bobette” tava em dia e pra memorizar uma frase-padrão na hora de fazer o pedido. Parti confiante.
Chagando lá, me vi diante da recepcionista com a cara da Dona Benta. Não hesitei e soltei a frase num francês que até um jegue moco do interior do Congo entenderia:
– “Bonjour, Madame. Je voudrais le numéro 1, s’il vous plait!”
– “Ok, Monsieur”, e começou a digitar o pedido.
– “Et pour breuvage, Monsieur?”
Aquela pergunta não veio do céu…não podia…a sensação foi a mesma de tomar um escorregão no “verglas” e ter a certeza que dali sairia direto pro “CHUL” ou pro “cerceuil” (com a bandeira do flamengo em cima, claro).
A “fine” senhora, agora transformada numa mistura da Anabelle com o sorriso repuxado da Gretchen, esperava a minha resposta com as mãos enfiadas num “tablier” vermelho.
Meu instinto de sobrevivência se encarregou de produzir uma frase de defesa:
– “Pardon, Madame. Je n’ai pas bien compris!”
Zapt, zupt, zimp. Retransformada em Dona Benta a recepcionista repetiu, ou melhor, soletrou calmamente:
– “E t p o u r b r e u v a g e, M o n s i e u r ???”
Minhas pernas não respondiam ao que minha cabeça mandava fazer: corrrrrraaaa.
A amável “Madame” vendo meu desespero e antevendo a vergonha iminente que um avassalador tsunami de “marde” provocaria, piedosa, fez com a mão o sinal universal de alguém bebendo algo, e repetiu:
– “E t p o u r b o i r e, M o n s i e u r ???”
—————
E você, já passou por algum mico de imigrante? Conte pra gente. Prometemos manter o anonimato.